Por Pastor Carvalho , | Março 26, 2025 - 09:10
A prática pastoral é uma atividade humana de valor inestimável. Labora com o que há de mais importante neste mundo: vidas humanas!
Neste singelo texto, faço uma reflexão sobre a ética pastoral, tema importante na teologia cristã, sobretudo no contexto atual da vida da Igreja de Cristo.
É fato que, quase todas as obras sobre ética e moral, se iniciam enfatizando a crise ética existentes em todos os campos: política, negócios, religião etc. No campo religioso, cristão, evangélico, é válida a observação do professor Richard J. Stuarz, na sua obra Teologia Sistemática [1], que em resumo, leciona o seguinte: “o conceito de ‘ética pastoral’ é desafiador, pois implica que o pastor deve ser o cristão mais autêntico, porém, na prática, muitos pastores enfrentam dificuldades com vícios e falhas morais, como o vício em pornografia, o que demonstra que até mesmo os líderes espirituais estão sujeitos à natureza decaída humana”. Seguindo nessa esteira, é sadia a persecução de uma vida em santidade, que agrade ao Senhor, longe da exposição aos caprichos de um mundo caído que, como diz uma antiga canção, “só pensa em pecar”! Stuarz reflete ainda que “a ética pastoral deve ser fundamentada na busca pela vontade de Deus e no amor a Ele e ao próximo, com base nos princípios de transparência e responsabilidade, como observado em outras profissões. Embora os pastores sejam chamados a viver segundo padrões éticos elevados, muitas vezes esquecem que, como todos os seres humanos, são suscetíveis ao pecado. A ética pastoral não se limita apenas a questões sexuais, mas envolve todos os aspectos dos relacionamentos humanos, tanto dentro quanto fora da comunidade cristã”. Pois bem, na minha singela observação, todos nós, pastores, devemos não somente estudar, mas seguir os parâmetros da teologia da ética pastoral, ispis litere! Haja vista ser ela que define os passos para o comportamento que a Igreja de Cristo espera de cada um de nós! Quando falo de teologia da ética pastoral, me refiro à reflexão teológica, bíblica, cristã, sólida e essencial para cumprirmos o nosso papel de forma íntegra e fiel ao chamado de Deus. Chamado esse que tem como foco principal, servir a Cristo e à sua Igreja na face da terra. Cito aqui o comentário da introdução de 1ª Coríntios, da Bíblia Sagrada na versão católica, que diz o seguinte: “a nova ética, que visa pôr o homem a serviço de Cristo, tem por primeira exigência a prática da caridade, única que ‘edifica’ os irmãos em Cristo. O fim supremo dessa ética de liberdade e de serviço é a glória de Deus” [2]. Portanto, todo escândalo provocado pela inobservância aos princípios éticos, são, em regra, um desserviço à Igreja de Cristo e, consequentemente, à evangelização (Mc 16.15). E, óbvio, o instrumento de muitos ferimentos que demandarão um rigoroso trabalho e tempo para serem curados.
A palavra de Deus deve ser o fundamento para toda conduta pastoral. Em 2Timóteo 3.16-17, lemos a lição do mestre, o Apóstolo Paulo, informando que “toda Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça, para que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente instruído para toda boa obra”. Portanto, a catapulta que nos move é sim a Palavra do Senhor, as orientações do Mestre e dono da Igreja, Jesus Cristo (Mt 16. 18). Decisões apócrifas, impensadas, dissociadas da doutrina bíblica e dos preceitos éticos ferem a boa conduta, prejudicando a imagem do pastor e expõe, visceralmente, a Igreja perante a comunidade local que, obviamente, pode suscitar dúvida quanto á higidez moral da sua liderança e membresia.
O que o Senhor Jesus exige dos seus pastores? Uma vida de santidade. Aqui é válida a grande lição de Pedro - 1Pedro 1.15-16: “mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver, porquanto escrito está: Sede santos, porque eu sou santo”. Toda a ética pastoral repousa exatamente nisso: que sejamos o exemplo de pureza moral e espiritual. O que inclui a manutenção de uma vida irrepreensível, com foco no arrependimento contínuo e na transformação diária pela obra do Espírito Santo de Deus... Resumindo ainda mais: o reflexo do caráter de Cristo. Isso fácil? De jeito nenhum! Demanda oração, leitura e estudo da Palavra de Deus e renúncia do “eu” diariamente. Ser santo é ser separado do pecado, adepto do bem e saber desprezar o mal, como lemos em Amós 5.15: “aborrecei o mal, e amai o bem”.
Ser ético é também praticar a humildade e servidão! Essa é uma exigência de Cristo para nós! Jesus nos ensinou que entre nós, todo aquele que quiser ser grande e o primeiro, ou seja o líder forte, que seja servo de todos (Mt 20. 26-27). Assim, o modelo de liderança do pastor cristão não é de domínio ou autoritarismo, mas de humildade e servidão. Fomos chamados por Deus para servir a congregação com um coração humilde e disposto a sacrificar-se pelo bem-estar espiritual dos outros. Haja que vista que o princípio da humildade não se baseia em poder ou posição, mas em amor e cuidado pastoral, sempre buscando a edificação e o crescimento integral da igreja.
Ética pastoral implica responsabilidade no cuidado da Igreja e dos indivíduos! Mais uma vez, temos a lição do apóstolo Pedro, enfatizando o seguinte “e agora, uma palavra aos presbíteros em seu meio. Eu, que também sou presbítero, testemunhei os sofrimentos de Cristo e também participarei de sua glória quando ela for revelada. Assim, peço-lhes que cuidem do rebanho que Deus lhes confiou com disposição, e não de má vontade; não pelo que lucrarão com isso, mas pelo desejo de servir a Deus. Não abusem de sua autoridade com aqueles que foram colocados sob seus cuidados, mas guiem-nos com seu bom exemplo. E, quando vier o Grande Pastor, vocês receberão uma coroa de glória sem fim! (1Pe 5.1-3 NVT). Eis uma palavra forte, a ser levada em consideração para o sucesso da missão. Aquele que se candidata ao santo ministério, deve estar consciente que o pastor tem a grande responsabilidade no cuidado espiritual e emocional da igreja, sendo o exemplo de diligência, sabedoria e compaixão, buscando sempre o bem-estar de sua ovelha.
Finalizo esta breve reflexão, relembrando, enfaticamente, que a ética pastoral é expressão do caráter de Cristo e a presença do Espírito Santo nas nossas vidas! Acredito que o mero pensamento em violar tal disciplina é uma afronta a Deus, afinal ele nos confiou o que lhe é mais importante: a sua amada Igreja, fruto do sacrifício de Jesus na cruz do Calvário. O Senhor nos ajude a sermos cada vez mais sermos fiéis aos preceitos da sua bendita palavra.
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Sturz, R. J., Teologia Sistemática (São Paulo 1.a edição2012) 623.
Terra, D. J. E. M., “Introdução à Primeira Carta aos Coríntios”, Bíblia Sagrada: Edição de Estudos (São Paulo 12a Edição2020) 1836.
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